Você me convidou pra jantar e eu fui.
Me chamou pra subir e eu aceitei.
Perguntou se eu queria mais um pouco de vinho, eu estendi minha taça.
Quis saber se eu preferia ovos mexidos ou panquecas no café da manhã e eu escolhi só café.
Você me convidou pra ir ao cinema, à praia e ao estádio de futebol, eu fui.
Pediu pra eu deixar a luz do banheiro acesa na hora de dormir e eu virei pro outro lado da cama.
Em um fim de tarde de quarta-feira, você disse que me amava e eu disse que era recíproco.
Você me levou pra conhecer seus pais em um jantar de sexta-feira e sua vó em um almoço de domingo, eu levei meu pudim de leite condensado e tentei não parecer ansiosa demais dentro daquele vestido amarelo.
Você comprou ingressos pro show de uma banda cover dos Beatles e também praquela exposição na Pinacoteca, e eu fui… Mesmo não gostando de Beatles e já tendo visitado a exposição no Rio.
Escolheu uma série no Netflix e nós terminamos as cinco temporadas em sete finais de semana.
E me chamou pro cinema.
Pra praia.
Pro almoço de domingo na casa da sua vó.
Também escolheu a nossa próxima série.
Me perguntou qual cápsula de Nespresso eu queria pro café.
Pediu pra eu passar a manteiga.
Me chamou pra praia.
Pro cinema.
Pro show.
Pra praia.
Pro cinema.
A manteiga.
A cápsula de café.
A série.
A luz do banheiro.
O jogo no estádio.
A manteiga.
O café.
E eu dei.
E eu fui.
E eu assisti.
E eu dei.
Então, você pediu pra eu ir embora.
E eu fui.
A luz do banheiro está acesa, o pudim está na geladeira, o seu lado da cama está vago e eu não sei quais são as minhas opções, uma vez que você não está aqui pra me pedir, pra me chamar, pra me perguntar.
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